-Previsível-, diz Abade sobre a convocação
Árbitro rio-pardense fala sobre Seleção, arbitragem e expectativas para Copa
Entrevista: Luís Henrique Tobias
Redação: Giselle Torres Biaco
“Era bastante previsível. Se a maioria da população analisar e fizer sua convocação, pode errar em apenas quatro ou cinco nomes, eu mesmo fiz um teste e só errei dois nomes. Para mim, as novidades foram Fernandinho e o Henrique, os outros 21 bateram com a convocação dele. É o que a gente tem de melhor e esperamos agora que, com toda a força da torcida brasileira, a gente consiga fazer uma excelente Copa do Mundo”, comenta o ex-árbitro da CBF Cleber Wellington Abade.
A lista dos 23 convocados para a Seleção foi divulgada nesta quarta-feira pelo técnico Luiz Felipe Scolari. Para a maioria, a grande surpresa foi o zagueiro Henrique, do Napoli, que ganhou a disputa com Miranda, Dedé, Marquinhos e Réver por uma vaga na defesa.
Justamente sobre o jogador Miranda, Cleber diz que a convocação de uma Seleção Brasileira não é feita pelo panorama atual do futebol. “O Miranda vem atravessando um bom momento, assim como outros jogadores, mas o Felipão não costuma trabalhar desse jeito. Se você analisar todas as convocações que ele fez, vai ver que existe uma linha mestra, e ele acompanhou isso inclusive com base na conquista da Copa das Confederações. Pouco se mudou daquele time. O Miranda vem fazendo um excelente trabalho, mas para uma Copa do Mundo ele não tem experiência, tanto é que algumas pessoas me falaram que tinham a certeza de que o Rafinha seria convocado. Mas no meu entendimento, com o Maicon é possível mudar o sistema de jogo da Seleção. Ele traz o Maicon para a lateral direita, coloca o Daniel Alves no meio de campo e eles conseguem fazer jogada por aquela zona de ataque, inclusive com o Maicon sendo mais marcador com um preparo físico melhor que o Daniel”, analisa Cleber.
Centroavante
O árbitro acredita que Felipão não convocaria outro centroavante com as características do Fred, por isso a manutenção do Jô. “Com o Jô você consegue fazer jogadas pelo alto, ele tem a característica de marcar a saída de bola, então você consegue mudar o esquema tático. Nós vamos para um campeonato de 30 dias, então não é logo, por isso você precisa ter peças de reposição e que ele consiga jogar em várias posições, e que seja possível, numa situação em que está perdendo, tentar mudar e fazer algo diferente.”
Futebol exportador
Sobre a convocação da maior parte dos jogadores que atuam no exterior, Cleber diz que o futebol brasileiro é exportador. “Somos formadores de jogador, ele vai para fora e quando não se adapta ou então quando já ganhou o dinheiro dele, retorna para encerrar a carreira. Essa é uma característica do nosso futebol.”
Para ele, a culpa é do próprio país. “O Brasil precisa ter melhores condições de segurança, melhor qualidade financeira, o governo precisa atacar muito na parte de educação, de economia. Nosso país hoje é de faz de conta, colocam várias estatísticas lá, mas quem vai ao supermercado sabe qual o tamanho da nossa inflação. Então o jogador vai para fora porque aqui ele sabe que não consegue sobreviver. E os clubes do país a maioria hoje trabalha com salários altos, mas o mês deles tem 90 dias, então isso é inadmissível.”
Árbitros brasileiros
Cleber considera bem preparado o árbitro brasileiro que representará o Brasil na Copa do Mundo, Sandro Meira Ricci. “Ele é mineiro nascido em Poços de Caldas e se radicou em Brasília. É um árbitro que fala quatro línguas e está muito bem preparado fisicamente, e aproveitou a grande oportunidade. É um árbitro jovem que em razão de alguns árbitros mais experientes não terem passado no teste da Fifa, ele se preparou. A CBF está dando todas as condições de treinamento para ele e para os assistentes, para que cheguem num bom patamar.”
Ele considera de “ótima qualidade” os dois assistentes brasileiros que também irão representar o Brasil na Copa. “São dois assistentes de ótima qualidade que trabalharam bastante comigo, o Emerson de Carvalho, de Marília, e o Marcelo Van Gasse, que é mineiro de Juiz de Fora e trabalha também pela Federação Paulista. É um trio bem representado.”
Mais fácil apitar
Para Cleber, os jogos da Copa do Mundo geralmente são mais fáceis de apitar porque os jogadores querem promover espetáculo. “É diferente da nossa ‘catimba’. O nosso futebol é um dos mais difíceis de apitar porque o nosso jogador é muito ‘cai-cai’, o defensor sempre vai com a segunda intenção de deixar um cotovelo, um carrinho. Se você analisar o futebol inglês que é pesado, vai ver que todas as disputas são na bola. Se o jogador se joga na área, a torcida toda vaia, então é o tal do ‘fair play’, que aqui só se fala quando o jogador machuca e o adversário joga a bola para fora.”
Expectativas
Cleber diz que sua torcida é pelo Brasil, mas também acredita em outras seleções. “Esperamos ser campeões, mas analisando tecnicamente, para mim não é a melhor Seleção. A Alemanha é uma equipe que vem muito forte, a Itália sempre vai na trombada e acaba chegando bem, e a Espanha que tem um excelente futebol. Mas, para mim, vai ficar entre Brasil e Argentina e, por incrível que pareça, acho que a Argentina está melhor. Como torcedor, somos campeões. Mas se o Brasil não for campeão, vou torcer para que o árbitro brasileiro faça a final da Copa do Mundo.”
Convocados
Goleiros: Júlio César (Toronto FC/CAN), Jefferson (Botafogo), Victor (Atlético Mineiro).
Zagueiros: Thiago Silva (Paris SG/FRA), David Luiz (Chelsea/ING), Dante (Bayern de Munique/ALE) e Henrique (Napoli/ITA).
Laterais: Daniel Alves (Barcelona/ESP), Marcelo (Real Madrid/ESP), Maxwell (Paris SG/FRA) e Maicon (Roma/ITA).
Volantes e meias: Paulinho (Tottenham/ING), Fernandinho (Manchester City/ING), Luiz Gustavo (Wolfsburg/ALE), Hernanes (Inter de Milão/ITA), Oscar (Chelsea/ING), Willian (Chelsea/ING) e Ramires (Chelsea/ING).
Atacantes: Fred (Fluminense), Neymar (Barcelona/ESP), Hulk (Zenit São Petersburgo/RUS), Jô (Atlético Mineiro), Bernard (Shakhtar Donetsk/UCR).
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Abade: “Quero o Brasil campeão, mas tecnicamente não é a melhor equipe”
Publicada em : 26/05/2014, por Paulão